Comemora-se (hoje) o dia daqueles que caminham a meio palmo do chão. Dia dos que acreditam que as estrelas cadentes realizam sonhos, dia dos que discutem por bobagem só pelo prazer da reconciliação, dia daqueles que dominam o tempo com precisão matemática: estamos juntos há cinco meses, duas semanas, dois dias, 13 horas, 24 minutos e 17 segundos...18...19... 20...
Dia daqueles que pensam e falam com as mãos, com a língua, com o nariz, com o corpo inteiro. Que utilizam todas as potencialidades do seu corpo, que empregam o coração como tradutor-intérprete e se armam até os dentes em defesa do seu sentimento. Dia de quem não saberia definir a palavra cérebro. Cérebro é uma fruta que dá muito no Piauí. Cérebro é o nome de um dos irmãos de Caim. Sei lá o que é cérebro, pô.
Dia de quem procura no dicionário alguma palavra que seja mais significativa que amor, dia de quem não se importa de ficar sem luz desde que não fique sem telefone, dia de quem caminha pela calçada ajustando o passo, feito soldados, só que agarradinhos.
Dia de quem não come alho porque o Julio repara, de quem não usa verde-água porque a Soninha acha brega, não corta o cabelo porque o Flávio me mata, não espalita os dentes porque a Carla fica uma arara.
Dia de quem, tomando café-da-manhã, acha que não vai agüentar esperar até às 8 da noite, hora de ir pro cinema. Dia de quem, estando numa quinta-feira, acha que falta um século para o sábado chegar. Dia de quem, estando em junho, acha que setembro levará três eternidades pra despontar no horizonte, quando então seu amor voltará da viagem de intercâmbio.
Dia de quem despreza todas as palavras que foram inventadas, a não ser três: eu te amo. Dia de quem se acha mais bonita do pedaço, mais rico do que Abílio Diniz, mais campeão dos campeões. Dia de quem é vegetariano mas encara um fondue de carne, dia de quem não é sociável mas engrena um bate-papo animado com a sogra, dia de quem jurou que jamais iria acampar, e lá vão eles dormir sob as estrelas.
Dia dos irracionais, dos que são movidos pelo instinto, dos que não se apavoram com nada, só com a ausência de e-mails e dos toques do telefone. Dia dessa gente feliz que namora."
(Martha Medeiros - 12 junho-2001).
Nenhum comentário:
Postar um comentário