segunda-feira, 24 de agosto de 2009

QUE VENHA A PRIMAVERA..


Aprendi com a primavera;
a deixar-me cortar
e voltar sempre inteira.
(Cecília Meireles)

5 comentários:

Anônimo disse...

Por aqui anuncia-se o Outono. Na próxima semana é o regresso d férias, na seguinte o recomeço das aulas e o hemisfério Norte prepara-se para um novo ciclo de vida.

Everson Russo disse...

E que essa primavera renasça em nossa alma e perfume nossos corações, linda semana pra ti, adorei seu blog...beijos

Vinicius disse...

Oi Lizzie.

Volte inteira; volte. Abraço.

Bacouca disse...

Lisa,
É das estações que mais gosto. A outra é o Outono. E no fundo porque representam para mim o despertar para algo " deixar-me cortar ( na natureza é nessas épocas as podas) e voltar inteira.
Um beijinho

Vinicius disse...

Lizzie. Eu estou anotando em papel as tuas indicações; o filme e o livro. Estou interessado por ambos. Sou muito previsível, ou nos conhecemos sem sabê-lo? Gosto principalmente do fato – de saberes traços que me são caros, como a literatura, cinema, artes. É impressão minha ou gosta muito de Oscar Wilde? Tenho duas possibilidades nessa questão; ou tu gostas de Oscar Wilde, ou tem o lido no momento, talvez recentemente. Acertei em algo? Camus – se o leres, talvez perceba que tenho estado demasiadamente embriagado com seus escritos. Vou lhe enviar desta vez, e me perdoe qualquer coisa, o texto que Sartre escreveu sobre Camus, um dia após o falecimento; lembrando que Camus morreu brigado com Sartre.

Albert Camus por Jean-Paul Sartre

(Escrito um dia após a morte de Camus)

Camus era uma aventura singular de nossa cultura, um movimento cujas fases e cujo termo final tratávamos de compreender. Representava neste século e contra a história, o herdeiro atual dessa longa fila de moralistas cujas obras constituem talvez o que há de mais original nas letras francesas. Seu humanismo obstinado, estreito e puro, austero e sensual, travava um combate duvidoso contra os acontecimentos em massa e disformes deste tempo. Mas, inversamente, pela teimosia de suas repulsas, reafirmava, no coração de nossa época, contra os maquiavélicos, contra o bezerro de ouro do realismo, a existência do fato moral. Era, por assim dizer, esta inquebrantável afirmação. Por pouco que se o lesse ou refletisse a respeito, chocávamos com os valores humanos que ele sustentava em seu punho fechado, pondo em julgamento o ato político.

Inclusive seu silêncio, nestes últimos anos, tinha um aspecto positivo: este cartesiano do absurdo se negava a abandonar o terreno seguro da moralidade e entrar nos incertos caminhos da prática. Nós o adivinhávamos e adivinhávamos também os conflitos que calava, pois a moral, se se a considera, exige e condena juntamente a rebelião. Qualquer coisa que fosse o que Camus tivesse podido fazer ou decidir a sua frente, nunca teria deixado de ser uma das forças principais de nosso campo cultural, nem de representar a sua maneira a história da França e de seu século.

A ordem humana segue sendo só uma desordem; é injusta e precária; nela se mata e se morre de fome; mas pelo menos a fundam, a mantêm e a combatem, os homens. Nessa ordem Camus devia viver: este homem em marcha nos punha entre interrogações, ele mesmo era uma interrogação que procurava sua resposta; vivia no meio de uma longa vida; para nós, para ele, para os homens que fazem com que a ordem reine como para os que a recusam, era importante que Camus saísse do silêncio, que decidisse, que concluísse. Raramente os caracteres de uma obra e as condições do momento histórico exigiram com tanta clareza que um escritor viva.

Para todos os que o amaram há nesta morte um absurdo insuportável. Mas, teremos que aprender a ver esta obra truncada como uma obra total. Na medida mesmo em que o humanismo de Camus contém uma atitude humana frente à morte que havia de surpreendê-lo, na medida em que sua busca orgulhosa e pura da felicidade implicava e reclamava a necessidade desumana de morrer, reconheceremos nesta obra e nesta vida, inseparáveis uma de outra, a tentativa pura e vitoriosa de um homem reconquistando cada instante de sua existência frente à sua morte futura.

JEAN-PAUL SARTRE