A obra conta a história de Serginho, cidadão de Cataguases, interior de Minas Gerais, que depois de ver o casamento ir pro “brejo” com Noemi – uma moça de “ideia fraca”, decidiu de posse das raspas do dinheiro da herança deixada pela mãe e a indenização do emprego que acabara de perder - ir para Portugal. Mais para “calar” uma cidade inteira – interiorana e credora da vida alheia que apostava em sua desistência - do que por projeto de vida. Serginho é um sujeito simples, sem grandes aspirações, de vida pacata entre cervejinhas, moças e o jogo de futebol. Num domingo de manhã, sapeando a conversa-fiada dos pingunços, mencionou meio impensado “Pro Estrangeiro” – quando lhe perguntaram o que faria da vida. Antes mesmo de debocharem da sua decisão já deram o destino ao pobre.
“Como é que um sujeito chega em Portugal?”, “De avião, ora pois”, “Como é que é um avião por dentro?”, “Apertado”, “De onde sai o avião?”, “Do Rio de Janeiro”, “Quanto tempo demora a ida?”, “Umas nove horas”, “E a volta?”, “Mesma coisa, ora pois”, “Tem banheiro?”, “Evidentemente”, “Dá para dormir?”, “Até ronco”, “Tem comida?”, “A da TAP é boa”, “E o país?”, “O melhor lugar do mundo”. (Inquérito de Serginho ao seu Oliveira, um português residente em Cataguases)
Botar os pés em Portugal não foi nada fácil já que o “conjunto da obra” – ingenuidade de viajante inexperiente, falta de recursos e diferenças culturais veem à tona. A segunda metade do livro conta justamente a “peregrinação” de Serginho em Lisboa, os brasileiros e portugueses que passam a fazer parte de sua vida, e toda a carga que isso implica, e as provações do imigrante sem cultura e recursos.
“Confesso que pensei até em arrumar as coisas e regressar, admitir que aquele empreendimento não era para minha estatura não, que importa se rissem do meu fracasso?, não havia sido assim até o momento? (…) Depois de uma fase, motivo de chacota da cidade inteira, talvez mesmo da região, outras estupidezes mais curiosas iam aparecer, as pessoas esqueciam, o que sustenta a piada é a novidade”
Estive em Lisboa e lembrei de você” é o terceiro livro da série “Amores Expressos”. O projeto propôs a dezesseis autores brasileiros, de diferentes gerações, que escrevessem histórias de amor. Cada autor foi enviado a uma cidade ao redor do mundo, servindo de cenário e inspiração para suas narrativas. À Ruffato, claro, coube Lisboa. O escritor Daniel Galera abriu a série com a publicação de “Cordilheira” (Buenos Aires), seguido de Bernardo Carvalho com “O filho da mãe” (São Petersburgo).
5 comentários:
Fiquei curiosa, gostaria de ler esse livro. Será que tem online?
A gente sempre se identifica quando vê brasileiro em terras estranhas. Quase todo mundo é mais fechado que os brasilieros.
bj
Lisa
Vou ver se Andrea troca o que ganhei por este.
Estou indo para S A depois para Araxa. Vou ficar sumidinha.
Com carinho Monica
Até sexta que vem.
Lisa, que obra mais gostosa de se ler!
Amo memórias...
E esse rapaz, meu conterrâneo de estado, se superou, hein?
Um vitorioso e merece todo nosso respeito e admiração!
Bjsssss
e grata por compartilhar...
Que interessante. Vou colocar na minha lista de aquisições....
Gostei dos trechos que vc mencionaou.
Lisa vou te colocar na minha listinha, sabia que vc foi a primeira a comentar no cogumelo :) ele é velho, depois comento sobre ele!
bjs
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