A personagem Mercedes (vivida por Lilia Cabral) no filme DIVÃ , leva pro consultório muitos questionamentos sobre sua vida. Até que passado um tempo - quando finalmente relaxa - se dá conta de que não há outra saída a não ser conviver com suas irrealizações. Diante disso, o analista sugere alta, no que ela rebate: Alta? Logo agora que estou me divertindo? um dos sintomas do amadurecimento é justamente o resgate da nossa jovialidade, só que não a jovialidade do corpo, que isso só se consegue até certo ponto, mas a jovialidade do espírito, tão mais prioritária. Você é adulto mesmo? Então pare de reclamar, pare de buscar o impossível, pare de exigir perfeição de si mesmo, pare de querer encontrar lógica pra tudo, pare de contabilizar prós e contras, pare de julgar os outros, pare de tentar manter sua vida sob rígido controle. Simplesmente, divirta-se.Não que seja fácil. Enquanto que um corpo sarado se obtém com exercício, musculação, dieta e discernimento quanto aos hábitos cotidianos, a leveza de espírito requer justamente o contrário: a liberação das correntes. A aventura do não-domínio. Permitir-se o erro. Não se sacrificar em demasia, já que estamos todos caminhando rumo a um mesmo destino, que não é nada espetacular. É preciso perceber a hora de tirar o pé do acelerador, afinal, quem quer cruzar a linha de chegada? Mil vezes curtir a travessia.
Dia desses recebi o e-mail de uma mulher revoltada, baixo-astral, carente de frescor, e fiquei imaginando como deve ser difícil viver sem abstração e sem ver graça na vida, enclausurada na dor. Ela não estava me xingando pessoalmente, e sim manifestando sua contrariedade em relação ao universo, apenas isso: odiava o mundo. Não a conheço, pode sofrer de depressão, ter um problema sério, sei lá. Mas há pessoas que apresentam quadro depressivo e ainda assim não perdem o humor nem que queiram: tiveram a sorte de nascer com esse refinado instinto de sobrevivência.Dores, cada um tem as suas. Mas o que nos faz cultivá-las por tantas décadas? Creio que nos apegamos com desespero a elas por não ter o que colocar no lugar, caso a dor se vá. E então se fica ruminando, alimentando a própria “má sorte”, num processo de vitimização que chega ao nível do absurdo. Por que fazemos isso conosco? Amadurecer talvez seja descobrir que sofrer algumas perdas é inevitável, mas não precisamos nos agarrar à dor para justificar nossa existência. (parte do texto de Martha Medeiros ZH 12/4)
3 comentários:
Oi, Lisa. Obrigada pela visita à Pausa do tempo.
Eu leio a Martha Medeiros todos os domingos na Revista O Globo. Gosto muito do que ela escreve. E vou ver o filme, sem falta. Já assisti ao trailer e adorei. Até meus filhos adolescentes querem ver.
Quanto a ser jovem de espírito, isso eu sou.
Beijos
Lisa
Todas nós deveriamos ler o que escreveu diariamente, para não nos esquecermos de nos divertir sempre. E para não sermos estas pessoas que são tropeço na vida de muita gente. Amargas.
Hoje depois de chegar da fisioterapia de mamãe, ler voce foi um presente do amanhecer.
Com carinho Monica
Oi Lisi!!!
É querida nem sempre é fácil esquecer alguns fatos e seguir em frente...Mas acho que é bem possível e que a gente seria muito mais feliz em viver o agora, o passado passou...e agora PODE ser diferente, melhor, mais feliz!!!Um grande abraço!!! Rosana
Postar um comentário