sexta-feira, 17 de abril de 2009

COMPLEXO DE VÍTIMA

Sting, no final da década de 80, circulou pelo mundo com o cacique Raoni, chamando a atenção para a causa indígena. Ao ser acusado de usar o líder Txukahamãe para se promover, Sting deu uma resposta brilhante: Se eu me envolvi nessa questão para me promover, não deixo de, em alguma medida, acreditar no que divulgo; já se eu me envolvi por idealismo, não deixo de, em alguma medida, me autopromover”. Falou e disse. É possível compreender que todas as relações, mesmo as mais profundas e sinceras, possuem, em sua constituição, um tanto de interesse. Sintetizando numa frase: todo mundo usa todo mundo o tempo todo. O termo “usar” possui um contorno nem sempre justo: ele pode ser visto de forma neutra, independente dos sentimentos que o acompanhem.
Quando você está com seus amigos numa festa, você está usufruindo (e usando) da companhia deles e eles, da sua. Usar não é obrigatoriamente algo ruim – e é um fato. Mas por que eu estou perdendo o meu tempo – e gastando o seu – com essa teoria de botequim? Uma teoria altamente questionável – quanto qualquer outra, aliás? Quando uma pessoa se sente vítima, se vê vítima, se acredita vítima, todo o seu poder de transformação é retirado. Vítimas – no momento em que sofrem – são impotentes. E impotência é algo morto, sem cura, sem movimento. Vítima de fato é aquela pessoa que não teve poder de escolha. Suponhamos que uma moça tenha saído com um cara, se apaixonado, e que, depois de uma ou várias noites, ele tenha usado a máxima do Leão da Montanha: saída estratégica pela esquerda. Então, a pobre se tranca em casa com três barras gigantes de chocolate, afinal foi uma vítima! Ora, mas ela também não o usou? Primeiro como um corpo viril, como uma confirmação do quanto ela é sexualmente apetitosa, e depois como um receptáculo dos seus anseios românticos? Eu sei: parece mais fácil jogar a culpa no outro – mesmo porque cafajestes e insensíveis que não nos querem mais não faltam por aí –, mas essa atitude só prolonga o sofrimento. Se ela teve escolha, está agora apenas lidando com as conseqüências de um risco que topou correr – e se ela teve o poder de se colocar nessa situação, não terá também a capacidade de sair dela?

2 comentários:

Andrea disse...

Nossa Lisa vc esta certissima ... concordo com que falou ,,e com otem gente que acha que sempre é vitima né ??
beijos e otimo fim de semana

Andrea disse...

Lisa
Hoje em dia algumas pessoas, no trabalho, utilizam esta forma de amizade, para se promoverem.
Não acho muito certo.
Mas o mundo dá muitas voltas e nestas voltas, elas vão perceber quando estão usando de sinceridade, ou quando estão usando as pessoas mais unfluentes.
Com amizade Monica