POR QUE PRECISAMOS DE ALGUÉM?
Pode acontecer a qualquer hora do dia, de qualquer dia. Numa sexta-feira às 17h20m de uma tarde nublada. Você decide que não quer mais fazer o que faz, que precisa trocar de profissão ou trocar de país mas lembra que pra isso precisa de uma grana que não tem, o sonho de repente fica distante mas a angústia segue brutal, e então a solução: o telefone. Você liga pra pessoa que mais conhece você, que melhor decifra suas neuroses, e não é sua mãe nem seu psiquiatra: é ele. Aquela pessoa a quem você chama intimamente de amor.
Do outro lado da linha, o seu amor ouve pacientemente toda sua narrativa turbulenta e irracional, dá uma risada que não é de deboche e sim de quem já viu/ouviu essa cena duas mil vezes e diz: daqui a pouco eu tô aí e a gente conversa sobre isso.
Daqui a pouco passa rápido e ele chega. Você não está mais pensando exatamente aquilo que estava pensando antes. Aquilo evoluiu para um diagnóstico emocional torturante: você não vai mais trocar de emprego nem de país, simplesmente porque descobriu que é uma pessoa instável, maluca e com fraquezas que se revelam no meio de uma tarde nublada, e que sendo assim é melhor ficar onde está. Mas chora. Não vai perder esta oportunidade.
Seu amor lhe dá um abraço de urso, faz estalar sua terceira e quarta vértebras e fala que bom que você não vai embora, então que tal um cinema pra comemorar? Ao se olhar no espelho você se depara com uma mulher seis anos mais velha e 750ml de lágrimas mais inchada, mas antes que comece a chorar de novo, ele diz: tá linda. Vamos nessa.
O filme termina e você quer conversar. Mais calma, conta pra ele como é difícil pra você manter suas escolhas, que às vezes você gostaria de experimentar sensações novas mas é complicado abrir mão do conhecido em favor do desconhecido e, olha, juro, dessa vez não é TPM. Então ele diz que também sente isso às vezes, dá um puta beijo nela e, olhando bem no seu olho,
diz: é TPM, sim, mas não tem importância. Amor não é mais do que isso.
(MARTHA MEDEIROS -Abril /2002)
2 comentários:
Bom dia Lisa...puxa, como é bom ter-te de volta por aqui...e junto, claro, seus magnificos pensamentos e pérolas que trás para nós, como Medeiros.
Incrível a habilidade de descrição de um fato, da ilustração de um momento, da personificação em palavras de sentimentos, alegrias e angustias, tristezas e afeto, em palavras, sem contação de uma crônica, relato, depoimento ou mesmo romance! Simplesmente é um retrato de forma literária daquilo que em algum momento, ao menos uma vez, vivenciamos, ou então ainda iremos vivenciar.
Porque simplesmente é humano.
(...)
Creio que a própria midia de telinha e telonas culmina por formar-nos sujeitos angustintes sob as pressões de rotinas ou eventos malogrados. Em que em seus enrredos exibidos, é sempre 'tão fácil' ao protagonista transladar não apenas de bairro, cidade, estado ou mesmo país, como a quem resolveu no ultimo momento ir buscar uma pizza, mas transladar até de vida. Sonho americano... ou 'cult' europeu. Enquanto no primeiro o sucesso está ao alcançe de uma passagem para um dos grandes centros, no segundo, o charme de uma Europa romantica, dos cafés, da cultura, da história... Em ambos, não há a 'chatisse' da 'nossa' rotina... mas como retratado em Lua de Fel (polansky), tudo é passivel de tornar-se rotina e ficar enfadonho.
A realidade humana que nós é imprecindivel compreender é que precisamos de outra pessoa, porque somos humanos e o 'homem' desenvolve-se, vive e sobrevive socialmente, apenas. Como seres organicos, estamos em constante movimento, mudança...e nada...nada nos pode ser cristalizado, engessado...e aí reside outro grande erro de muitos sujeitos, e no entanto é importante salientar que o 'homem' é individuo...não perdemos ninguem porque somos seres solitários, e justamente o inverso é que temos a sorte de ocorrer: encontrar alguem que compartilhe algum tempo de nossa vida(em algum momento, ainda que seja a morte, essa relação será cortada).
"Ao se olhar no espelho você se depara com uma mulher seis anos mais velha e 750ml de lágrimas mais inchada, mas antes que comece a chorar de novo, ele diz: tá linda. Vamos nessa."
Precisamos estar sempre prontos para as mudanças, quando ocorrem ou quando a percebemos.
A comunicação venceu fronteiras nunca antes imaginaveis, em uma velocidade que faz o ontem ser secular. Nesse novo quadro social claro que o 'homem' encontrou também uma forma de fechar e estreitar relações. Como um ser plemanmente adptativo...é também necessário adptar-se a isso, tanto quanto o fez com tantos outros avanços conquistados (como até mesmo andar ereto!)
Ter alguem ao nosso lado de forma concreta, para dar conta desse desamparo (como trata a antropologia e a psicanalise)afetivo, parece então imprenscindível...e por isso mesmo, pior é não ter haver ninguem.
Uma otima semana para voce.
com um abraço de Urso!rs...
bj
ESta Martha retratou tão bem uma cena de carinho e amor que daria um filme e tanto.E que muitas vezes é a verdade.
O importante é agente ter alguem em que apoiar.
Eu tenho . Meus irmãos!
com carinho MOnica
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